Eni Fernandes e Ivan Reis – homenagem perpétua na galeria da raça negra

Evento foi marcado pela emoção e por histórias de vida das duas personalidades

25 de março de 2022

Foi numa cerimônia carregada de emoção e sinceridade que ocorreu a inclusão dos retratos da assistente social Eni Fernandes e do educador e ativista Ivan Reis na Galeria Aristides dos Santos, da Secretaria da Mulher, Pessoa com Deficiência, Raça e Etnia, na manhã desta sexta-feira, 25/3. O evento ocorreu na Secretaria da Educação, às 9h30.

Eni Fernandes, vereadora por duas legislaturas, funcionária pública, militante de causas populares, saiu consagrada. Foi aplaudida de pé. Arrancou lágrimas. Contou sua história desde que chegou em Rio Preto, suas lutas para erradicar favelas, seu empenho em atender associações de recuperação do ser humano e outras batalhas. “Eni Fernandes não fazia coisas só para a comunidade negra. Ela fazia pela cidade toda,” disse o vereador Pedro Roberto.

Estavam presentes o vice-prefeito Orlando Bolçone (representando o prefeito Edinho Araújo); a secretária da Mulher Cristina Godói (organizadora do evento); os vereadores Pedro Roberto (presidente da Câmara) e Renato Pupo; Darok Viana (presidente do Conselho Afro); Denise Maria Ferreira (vice-presidente do Conselho Afro); Helena Marangoni (secretária municipal de Assistência Social); a antropóloga Niminon Pinheiro; Silvina dos Santos (filha de Aristides dos Santos), representantes de conselhos e associações (entre elas o Amor Exigente no qual Eni é voluntária), entre outras pessoas e familiares dos homenageados.

Abrindo a cerimônia, Darok Viana, atual liderança da comunidade negra, lembrou da dureza da luta por igualdade, seja ela social, racial, de gênero, etc. “O enfrentamento de qualquer desigualdade é duro. Torço para que os dois homenageados perseverem nesta luta. O mais bonito hoje é que são duas pessoas sendo reconhecidas em vida!” disse.

Em seguida tomaram a palavra os componentes da mesa, a maioria que já dividiu trabalhos com Eni e Ivan Reis.

Eni Fernandes comoveu pela sua história de vida, aqui na cidade começando com erradicação de favelas (teve época que Rio Preto registrou a instalação de quase uma dezena de favelas), salvando cerca de 500 famílias das condições sub-humanas que viviam. “Eu não me sinto eu. Eu me sinto nós. Tudo o que sou tem um pouco de cada pessoa que me deu a mão, me ajudou nos momentos tristes da vida e nas ações comunitárias,”afirmou.

Como assistente social, trabalhou na área da saúde, na organização popular dos favelados, na criação do movimento de mulheres, negras/os, coleta coletiva, a partir dos catadores de recicláveis e outros.

Em 1985, ingressou no serviço público estadual no cargo de assistente social, aposentando-se em 2019. Em 1981 cooperou na fundação do Partido dos Trabalhadores em Rio Preto, tornando-se dirigente municipal e estadual da legenda, por diversas gestões.

Em 1996, foi eleita vereadora pela primeira vez. Em 2000, foi eleita a vereadora mais votada na história da cidade. Em 2002, recebeu o título de melhor vereadora da cidade e região. Foi considerada uma das 100 melhores vereadoras do Brasil.

Ivan Reis, de camisa floral e bermuda branca, discursou com a tônica da alegria, sua marca registrada, contou sua vida, os preconceitos que enfrentou na adolescência e as superações. “Nasci na favela, fui da Fundação Casa, fui espancado na rua. Não era para eu estar aqui hoje, falando com vocês e muito menos recebendo homenagem,” disse. Ivan é graduado em Sociologia e Literatura, é educador sociocultural na Fundação CASA, escritor, poeta, pesquisador de literatura negra, ativista editorial, foi conselheiro no Conselho Afro de Rio Preto por 12 anos, sendo também vice-presidente.

Criou o Projeto LETRAS NEGRAS com publicação em 2020, premiado pelo Edital do Prêmio Nelson Seixas do mesmo ano. Foi premiado pelo Edital Aldir Blanc 2021, pela edição de NEGRU-ME – Selo Editorial Nossa Voz.

O patrono da galeria, Aristides dos Santos, foi um negro insistente, corajoso e consciente dos seus direitos e dos direitos do seu povo-irmão. Não sossegou um dia de militância e muita coisa boa, muito avanço, aconteceu por causa dele e suas articulações. Foi engraxate, dono de estabelecimento concorrido no centro da cidade. Foi nomeado oficial de Justiça no Fórum de Rio Preto e mais tardei nomeado Comissário de Menor (1959 – 1963).

Foi denunciado e preso como comunista, sendo detido por 10 dias e mais 30 dias em prisão domiciliar. Escreveu os livros “Pretos e brancos: somos flores do mesmo jardim”, lançado em 1996 e “Aristides, retalhos de uma raça”, em 2013.