O Festival – JBC 2023

O Festival Janeiro Brasileiro da Comédia foi criado em 2003 para comemorar os 30 anos do Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto e, em 2023, completa 21 anos de história e 20 edições. O JBC é um projeto composto por mostra de espetáculos nacionais do gênero comédia; atividades formativas; debates, envolvendo artistas participantes e convidados, e neste ano ganha um painel de crítica, o Riso Crítico; um ponto de encontro noturno, o Cabaret do Riso e uma Exposição Fotográfica Itinerante: Vai Recomeçar a Brincadeira. Todas as atividades são gratuitas e acontecem de 21 a 30 de janeiro de 2023.

A curadoria do JBC é de Jorge Vermelho, assessor da Secretaria de Cultura e a Comissão de Seleção dos espetáculos foi composta por Álvaro Fernandes, Fabiana Monsalú e Jésser de Souza, profissionais na área.

Atenas-São José do Rio Preto

O Janeiro Brasileiro da Comédia foi criado em 2003, em nossa primeira gestão, em comemoração, à época, aos 30 anos do Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto.

Não imaginávamos, 20 anos depois, poder comemorar essa 20ª edição desse festival, que se tornou referência no país e que tem proporcionado tantos encontros e aprendizado ao público e à classe artística de nossa cidade.

O gênero da comédia, historicamente, sempre foi tratado como “menor”, “mais fácil”, “menos profundo”, empregando um valor aquém de sua importância nas artes.

O Janeiro Brasileiro da Comédia, nesses 20 anos, provou que a investigação do gênero da comédia é fundamental investimento na aquisição de conhecimento e pesquisa para que possamos ter uma recepção mais crítica e sabedora das instâncias nascedouras de cada manifestação.
A comédia foi fator importante para a democracia grega porque ela tinha uma atuação de denúncia como ocorre com o papel da mídia hoje. Ela satirizava a todos, mas especialmente os políticos e ricos influentes da época.

Porém, a importância da comédia era a possibilidade democrática de sátira a todo tipo de ideia, inicialmente política. Assim como hoje, em seu surgimento, ninguém estava a salvo de ser alvo das críticas da comédia: governantes, nobres e nem ao menos os Deuses. Por isso, muitos temiam ser ridicularizados pela comédia, que assumiu assim um papel para aquisição plena da democracia ateniense.

Segundo Masetti (1988: p.2), o cômico tem seu lugar garantido ao abrigar a lógica da complexidade: ideias que parecem incoerentes ou absurdas, o duplo sentido, o erro, a irracionalidade. Ele se caracteriza por colocar-se à margem da sociedade, questionando a estrutura da ordem social, tratando do reprimido, ligando o homem à sua essência e à sua condição.

Diante disso, a função do Poder Público é gerar ambientes favoráveis à reflexão, à criticidade e ao intercâmbio de ideias e pensamentos, contemplando o diverso e criando possibilidades de acesso à arte e à cultura.
Esta edição faz-se assim: com obras derramadas pelas dez regiões de São José do Rio Preto, ampliada em suas ações formativas e brindada em noites de necessária alegria no Cabaret do Riso, na ansiedade de reinauguramos nosso Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto, em seus 50 anos, palco nascente desse patrimônio rio-pretense, o JBC.

Que tenhamos um mergulho no riso, rasgado ou nervoso, mas riso.

Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto

Janeiro Brasileiro da Comédia: divertir para comunicar

Quando falamos das artes cênicas, falamos da capacidade geradora de experiências artísticas e relacionais que fomentam a abertura para outras qualidades perceptivas, enquanto possibilidades de desdobramentos no cotidiano do indivíduo. Portanto, elas – as artes cênicas – se transformam em acontecimento que se dá na fronteira entre a obra e o público; transformam-se em lugar onde circulam redes de afetos, pela presença e pela percepção de pertencimento.

Nos primórdios do teatro, antes dos diálogos tecidos entre as personagens ou de um texto proposto pelo autor, sempre foi a “presença” a desencadeadora do “acontecimento” e da produção da “experiência” cênica. Essa tríade, que vem contribuindo para a diminuição das distâncias entre a obra de arte e o espectador, foi de extrema importância durante o processo de análise dos espetáculos, esquetes e performances para compor a programação do Janeiro Brasileiro da Comédia, edição 2023.

Através de uma programação plural e expandida, a Comissão de Seleção do JBC descentraliza o “Teatro Brasileiro” do eixo RJ/SP, compreendendo o Festival como espaço de (in)formação, para a construção do pensamento reflexivo e crítico diante da vida e do mundo, levando em conta a necessidade de “Divertir para comunicar”, como dizia o autor alemão Bertolt Brecht.

Foi tarefa árdua selecionar a programação entre mais de 200 propostas inscritas. Muitos trabalhos, por mais extraordinários e potentes que se mostraram, não couberam na programação, pois além dos critérios de qualidade técnica e artística, de representatividade de gênero, de temática, de diversidade de linguagens, de espacialização cênica e de público alvo, buscamos abranger as territorialidades brasileiras, no sentido de promover um maior intercâmbio ético, estético e político, especialmente neste momento de imprescindível necessidade de reconstrução e reunificação do país.

Na tentativa de expansão do próprio gênero da comédia, pensamos um festival onde a Arte possa ser viva e mutante, mantendo uma reflexão ativa através da ação cênica para revelar sua função em face do tempo em que vivemos, reelaborando constantemente o aspecto crítico e inventivo de suas propostas sem perder de vista, contudo, a necessária tensão entre arte e vida, ficção e realidade.

Apreender ou apresentar culturas tão distintas e multifacetadas dentre as que formam o Brasil é um desafio, adicionando a isso a dificuldade de reter, mesmo que por um único instante, o inapreensível, o efêmero do fenômeno teatral. Assim, os trabalhos selecionados para esta edição, provocam múltiplas relações e diversas experiências através da gama de estéticas possíveis encontradas no gênero da comédia brasileira.

Como seres formados por desejos, que não estão mais em busca de modelos, de interpretações prévias ou quaisquer efeitos coordenados antecipadamente, buscamos o jogo e a experiência. Um jogo cheio de formas e estéticas. Um jogo como pretexto para que cada espectadora e espectador possam traduzir ao seu modo o que lhe acontece, produzindo uma aventura sensível e intelectual, marcada pela singularidade que o constitui.

Alvaro Fernandes, Fabiana Monsalú e Jesser de Souza
Comissão de Seleção JBC 2023

Ir para a página do Festival